sábado, 28 de fevereiro de 2015

ORIGENS



Ali estavam as paredes imponentes rudes e toscas, resistentes à erosão dos anos, da casa onde germinaram todos os meus sonhos.

Transpiravam suor acre-doce, das raízes da memória dolente a venerarem o passado.

Amores e desamores, derrotas e vitórias, aos ombros derreados do velho gigante do tempo, de cabelos imaculados de sabedoria.

Eu, sentado à janela de sacada, debruçado no parapeito da melancolia, com olhar rasgado, sobre a imensidão daquele vale a segredar-me, lendas e preces, onde crepitam histórias de vidas a perder de vista, entrecortado pelo bailado das águas cristalinas do rio, ora manso ou feroz, mensageiro de abundância, ou fome, esculpido nos rostos encortiçados, pela labuta e angústia, que é a incógnita da generosidade divina das colheitas.

Folheio os dias desbotados, afagando-os com mãos de mundo, gretadas pela enxurrada da saudade a diluir-se, por entre os dedos finados de ânsia.

Repouso sentado à soleira do tempo, embalando histórias de uma travessia, que se eclipsou em cinzas deste peito, escavado por uma lânguida recordação.

Agora já só restam páginas impercetíveis, no rumorejar da saudade.

 

 

DIOGO_MAR

9 comentários:

  1. É sempre com muito gosto que leio os seus textos, em histórias muito belas..... Parabéns !!!

    ResponderEliminar
  2. O silêncio é a música da alma. Escutá-lo transmite-nos uma certa nostalgia das nossas raízes e vivências.
    Abraço,
    Jorge

    ResponderEliminar
  3. O silêncio pode ser de ouro. Mas por vezes pode e deve ser rasgado.

    ResponderEliminar
  4. Um texto poético de grande beleza.
    Gosto destas paredes que guardam tantas e tão gratas recordações.
    As rugas e os musgos que revestem cada pedra são testemunhos que nos ajudam a reviver um passado que se faz presente.
    Cordiais saudações

    ResponderEliminar
  5. às vezes o silêncio
    é oco por dentro
    outras, quando rasgado
    soa como um grito, um brado

    Cheguei
    oiço
    e é cedo
    para comentar esse (este) silêncio

    ResponderEliminar
  6. prosa poética cheia de memórias.
    e no silêncio
    se faz grito!
    boa semana.
    beijo
    :)

    ResponderEliminar
  7. Muito bonito este texto, palavras profundas e belas a romper o silêncio.
    Boa semana

    bjs

    ResponderEliminar
  8. Bom...fico fã incondicional.
    É um prazer, uma delícia, ler o que escreve.
    Bjs.

    ResponderEliminar
  9. E finalmente foi hoje que passei por aqui... e fiquei fã...
    Seria impossível não ficar...
    Adorei este texto, Diogo.
    Há silêncios que devem mesmo ser rasgados para que algo, ou alguém se faça ouvir...
    Tive muito gosto em conhecer este novo espaço, e será um prazer, voltar aqui, para apreciar estes belos trabalhos... e as palavras profundas, e marcantes... que calam e rasgam silêncios vazios...
    Adorei tudo, por aqui...
    Qualquer dia... será para considerar uma publicaçãozita, Diogo!?...
    Actualmente estou a ler um livro, praticamente feito de pequenos textos individuais, curtos e profundos, de linguagem forte, e realista, que giram à volta de relações humanas... muito apelativos para os leitores de agora, que lêem entre os intervalos da pressa dos dias... de Pedro Chagas Freitas - "Prometo Falhar"
    Textos como os seus, Diogo, dariam uma publicação igualmente fantástica... como os que se encontram por aqui, neste blogue, por exemplo...
    Com mais tempo virei noutro dia, ler mais algumas publicações anteriores a esta...
    Continuação de tão excelente trabalho... e parabéns! Bjs
    Ana

    ResponderEliminar