sábado, 28 de fevereiro de 2015

ORIGENS



Ali estavam as paredes imponentes rudes e toscas, resistentes à erosão dos anos, da casa onde germinaram todos os meus sonhos.

Transpiravam suor acre-doce, das raízes da memória dolente a venerarem o passado.

Amores e desamores, derrotas e vitórias, aos ombros derreados do velho gigante do tempo, de cabelos imaculados de sabedoria.

Eu, sentado à janela de sacada, debruçado no parapeito da melancolia, com olhar rasgado, sobre a imensidão daquele vale a segredar-me, lendas e preces, onde crepitam histórias de vidas a perder de vista, entrecortado pelo bailado das águas cristalinas do rio, ora manso ou feroz, mensageiro de abundância, ou fome, esculpido nos rostos encortiçados, pela labuta e angústia, que é a incógnita da generosidade divina das colheitas.

Folheio os dias desbotados, afagando-os com mãos de mundo, gretadas pela enxurrada da saudade a diluir-se, por entre os dedos finados de ânsia.

Repouso sentado à soleira do tempo, embalando histórias de uma travessia, que se eclipsou em cinzas deste peito, escavado por uma lânguida recordação.

Agora já só restam páginas impercetíveis, no rumorejar da saudade.

 

 

DIOGO_MAR

domingo, 22 de fevereiro de 2015

MANUSCRITO



É com a lapiseira do sol, que Escrevo nas folhas de uma árvore chamada tempo.

Riscos e sarrabiscos, muitas vezes desconexos, sombreados pelas agruras da vida, representada pela noite mumificada de breu sepulcral.

Esboços de vivências empedernidas de segredos e confidências, que só o vento visita e transporta a paragens longínquas, numa cúmplice aliança com o passado, na retrospetiva da minha travessia.

Jorra a tinta de um arco-íris, matizado pelos pingos da chuva, misturando-se com as minhas lágrimas, matando a sede da terra, fazendo-a transpirar, um odor de liberdade.

Estaria o céu enlaçado com o meu pranto?

Esse mesmo céu, ora toldado de nuvens carrancudas, num estranho bailado fúnebre, ora exibindo um alegre e resplandecente sorriso, influenciando o meu ego.

Um dia sol, eu irei empalidecer contigo, o meu corpo ficará inerte, irei viajar no crepúsculo do tempo, planando por aí, ao encontro da redescoberta da vida, que amo e com toda a tenacidade exalto.

Sim, porque o rascunho das minhas palavras fosforescentes, são uma arruela da aurora, num hino que edifica a orquestra da sebenta terrena.

 

 

DIOGO_MAR

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CRÓNICA DO DESESPERO







É no crepúsculo das palavras, que mascaro a realidade, deste timoneiro solitário, sem norte nem guarida, ao leme, de sonhos mumificados nos anais da minha vivência.


Dedilho os dias, de forma sôfrega, expelindo uma ânsia sem limite.


Quero-me!


Sou um barco fundeado, num mar de águas cálidas, de desejos náufragos.


O porto de abrigo é uma miragem inatingível, submergindo os despojos, de uma vida tatuada pelo desespero.


Balbucio vontades moribundas, em acordes da melodia perene, de não saber de mim.


Fico reduzido, aos arpejos do troar das vozes fantasmagóricas dos deuses, no crepitar do fogo-de-santelmo.


Ó vontade cadavérica, petrificada sob um céu tricotado de interrogações, que me esmaga o peito, tornando o num fóssil de saudade, deste corpo que não comando.


Desejo-me!


 


DIOGO_MAR








domingo, 1 de fevereiro de 2015

VAZIO



É na febril melancolia de um horizonte corroído pelo pesadelo da ausência, que desfalece este rio esmagado pelas margens, neste meu peito agastado, onde brota um caudal de palavras, que fosforesce os candelabros da solidão austera, fazendo cintilar os cristais do livro da memória, alojado no empoeirado arquivo da alma.

Desenho na sombra dos dias, a volúpia de um amor idílico, despojado de qualquer sacrilégio, submerso num pranto de lágrimas a derramarem-se na soleira de uma saudade perfumada de amargura demolidora e longínqua!

Ó, ABOR!

 

DIOGO_MAR